Psiquiatria

Um psiquiatra é um médico que se especializou no diagnóstico, tratamento e prevenção na área da Saúde Mental.

Como resultado da sua longa formação , é o especialista mais adequado para compreender as complexas relações entre os diversos órgãos e sistemas do corpo (incluindo também o sistema emocional/ cerebral) e a multiplicidade de doenças médicas. Está assim, especialmente atento à interligação entre o corpo e a mente.

Algumas doenças psiquiátricas possuem também sintomas físicos e algumas doenças físicas apresentam sintomatologia psiquiátrica. Deste facto resulta a importância de qualquer perturbação psicológica dever ser avaliada numa primeira abordagem por um psiquiatra, para ser efetuado o despiste de eventual causalidade orgânica subjacente e muitas vezes não detetada.

Na consulta de Psiquiatria existe o propósito de estabelecer um diagnóstico clínico e elaborar um projeto terapêutico desenhado à medida de cada paciente. Podem ser sugeridas terapêuticas farmacológicas e/ou orientação para consultas de psicoterapia.

A medicação pode ser associada a tratamento psicoterapêutico. É importante referir que o alívio rápido dos sintomas, proporcionado pela medicação, facilita o próprio processo psicoterapêutico. Está provado cientificamente que a associação destas duas modalidades terapêuticas (medicação e psicoterapia) é mais eficaz do que cada uma isoladamente.

INTERVENÇÃO

AGORAFOBIA
Agorafobia é uma perturbação de ansiedade caracterizada por sintomas de ansiedade em situações que a pessoa perceciona como inseguras ou das quais é difícil sair. Entre estas situações estão espaços abertos, tráfego viário, centros comerciais ou simplesmente qualquer situação em que a pessoa se encontre fora do local de residência. Quando a pessoa se encontra numa destas situações, o sintoma mais comum é um ataque de pânico. Para ser diagnosticada agorafobia, os sintomas devem-se manifestar praticamente sempre que a pessoa se depara com a situação e os sintomas devem-se manifestar por mais de seis meses. As pessoas afetadas geralmente dão-se a um esforço significativo para evitar as situações. Nos casos mais graves, as pessoas sentem-se incapazes de sair da própria residência.
PERTURBAÇÕES DA ANSIEDADE

A ansiedade é uma reação normal ao stress do dia a dia. É comum as pessoas sentirem-se ansiosas quando têm problemas no trabalho, antes de passar um exame ou quando necessitam de tomar uma decisão importante. Se a ansiedade for exagerada e prolongada, poderá tratar-se de um problema mais grave. Apenas se pode falar em perturbações de ansiedade quando existe um medo e ansiedade desproporcionado, que perduram há pelo menos seis meses e que têm um verdadeiro impacto na vida quotidiana. Existem diversas perturbações de ansiedade, nomeadamente as fobias, os ataques de pânico, a perturbação de ansiedade generalizada, o stress pós-traumático, entre outras. Todas têm em comum um sentimento de ansiedade exacerbado, que se prolonga durante vários meses e constituem a perturbação psiquiátrica mais frequente.

PERTURBAÇÃO DE PÂNICO (ataques de pânico)
Na Perturbação de Pânico os episódios de ansiedade são recorrentes, com uma intensidade severa, e não se relacionam com situações ou circunstâncias concretas. Por isso acontece, frequentemente, nestes casos, as pessoas manifestarem uma ansiedade constante que não está relacionada com uma situação ou acontecimento concreto. O medo de futuros ataques de pânico conduz a uma constante vigilância das sensações corporais, o que aumenta a ansiedade antecipatória. Com isto, os sintomas (respiração mais rápida, taquicardia, suores nas palmas das mãos, etc.) ao serem detetados são mal interpretados, criando medo, insegurança e apreensão. A interpretação é influenciada pelo medo destas sensações, pela expectativa de consequências devastadoras, bem como pelas recordações de episódios anteriores. Por isso, tudo isto resulta num aumento da ansiedade antecipatória, o que caracteriza um ciclo contínuo do pânico. Ao pânico, facilmente se associa outra perturbação: a agorafobia.
AUTISMO

Segundo a Associação Americana de Psiquiatria, as Perturbações do Espectro do Autismo (PEA) são uma síndrome neurocomportamental com origem em perturbações do sistema nervoso central que afeta o normal desenvolvimento da criança. Os sintomas ocorrem nos primeiros três anos de vida e incluem três grandes domínios de perturbação: social, comportamental e comunicacional.

PERTURBAÇÃO AFETIVA BIPOLAR (Doença Bipolar)

A Perturbação Bipolar, no passado também chamada Doença Maníaco-Depressiva, é uma perturbação psiquiátrica caracterizada por alterações acentuadas do humor, com episódios de intensa depressão e outros de extrema euforia, chamados clinicamente de episódios de mania. Podem ocorrer também episódios mistos, nos quais estão presentes tanto sintomas depressivos, como maníacos. A apresentação da doença é muito variável, podendo existir um predomínio de um tipo de episódio numa pessoa. Os episódios podem ser leves, moderadas ou graves, interferindo frequentemente com a rotina diária pessoal, profissional e familiar do doente. As mudanças de humor podem ocorrer de uma forma esporádica, cíclica, ou por vezes consecutiva, sem intervalo livre. Existem, no entanto, períodos livres de sintomas, em que o humor está a funcionar de forma adequada. Estes episódios prejudicam seriamente a vida das pessoas, desorganizando o seu pensamento e comportamento. A Perturbação Bipolar tem frequentemente uma evolução grave e crónica.

CLEPTOMANIA (roubo patológico)

A cleptomania caracteriza-se pela incapacidade de resistir ao impulso de furtar objetos desnecessários para uso pessoal ou de baixo valor monetário. Algumas pessoas podem desejar os itens furtados, utilizá-los ou mesmo colecioná-los. Por medo, vergonha e embaraço os indivíduos demoram muitos anos para procurar ajuda profissional, o que pode tornar o problema crónico. A cleptomania ocasiona um profundo sofrimento pessoal, problemas legais e sociais, com consequências matrimoniais e comprometimento profissional. A Cleptomania deve ser diferenciada do furto intencional ou inadvertido, sendo deliberado e motivado pela utilidade do objeto e valor. O diagnóstico não é feito a menos que outros aspetos característicos da Cleptomania também estejam presentes.

DELIRIUM TREMENS

Síndrome de abstinência provocada pela cessação abrupta do consumo de álcool em consumidores crónicos com dependência de álcool. Entre os sintomas destacam-se um tremor grave, aumento da sudação, confusão mental, alucinações (doentes referem que veem pequenos insetos ou animais), convulsões, etc. Pode terminar em coma e morte se não tratado.

DEMÊNCIA

Demência é uma categoria genérica de doenças cerebrais que gradualmente e a longo prazo causam diminuição da capacidade de raciocínio e memória, a tal ponto que interfere com a função normal da pessoa. Outros sintomas comuns são problemas emocionais, problemas de linguagem e diminuição da motivação. Geralmente a consciência da pessoa não é afetada. Para um diagnóstico de demência é necessário haver uma alteração da função mental normal da pessoa e um declínio superior ao que seria expectável devido à idade. Este grupo de doenças afeta também de forma significativa os cuidadores da pessoa. O tipo mais comum de demência é a doença de Alzheimer, responsável por 50 a 70% dos casos.

Entre outras causas comuns estão a demência vascular (25%), demência com corpos de Lewy (15%) e demência frontotemporal. Entre outras possíveis causas, menos prováveis, estão a hidrocefalia de pressão normal, doença de Parkinson, sífilis e doença de Creutzfeldt-Jakob. A mesma pessoa pode manifestar mais de um tipo de demência. Uma minoria de casos é de origem hereditária. No DSM -5, a demência foi reclassificada como perturbação neurocognitiva, com vários graus de gravidade. O diagnóstico tem por base a história da doença e exames cognitivos, complementados por exames imagiológicos e análises ao sangue para despistar outras possíveis causas. Um dos exames cognitivos mais usados é o mini exame do estado mental. As medidas para prevenir a demência consistem em diminuir os fatores de risco como a hipertensão arterial, tabagismo, diabetes e obesidade. Não está recomendado o rastreio na população em geral.

DEPENDÊNCIA DE SUBSTÂNCIAS

A dependência de substâncias define-se como uma dependência de um “tóxico” ou droga que provoca adicionalmente perturbações psicológicas. As drogas não são todas iguais quanto à sua toxicidade: algumas drogas muito tóxicas, como o álcool, podem ser ingeridas de forma controlada por muitas pessoas sem problemas de maior. Por outro lado, a heroína, ao contrário do álcool, é uma droga com menos efeitos tóxicos a longo prazo, mas apresenta uma enorme capacidade de criar dependência que é impossível deixar de ficar dependente após alguns consumos. Importa, assim, distinguir a dependência causada por diferentes substâncias porque estas têm características diferentes e é possível utilizar algumas delas de forma não abusiva. O que atribui perigosidade real a uma determinada droga ou substância, assim como o que induz e mantém o consumo de uma droga, é um conjunto de fatores que interagem de forma dinâmica e estão relacionados com as propriedades farmacológicas da substância, as características psicológicas do consumidor e o ambiente social que o rodeia. Significa isto que pessoas diferentes integradas em meios diferentes apresentam um maior ou menor potencial de se tornarem dependentes da mesma substância. A dependência de drogas ou de outras substâncias define-se quando estão presentes, em simultâneo, diferentes critérios: um forte desejo ou compulsão para consumir a substância; dificuldades em controlar o comportamento de consumir a substância, tanto no que se refere ao início, fim e níveis de consumo; estado de abstinência fisiológico quando o uso da substância cessa ou é reduzido; evidência de tolerância, em que doses crescentes da substância são necessárias para se obter um efeito inicialmente obtido com doses mais baixas; abandono progressivo de prazeres e interesses alternativos em favor do uso da substância e aumento da quantidade de tempo necessária para se recuperar dos seus efeitos; persistência no uso da substância, apesar da evidência de consequências manifestamente nocivas. 

DEPRESSÃO

O que se designa por depressão é uma condição clínica caracterizada por um sentimento de tristeza e pela perda de interesse por atividades, que antes eram tidas como agradáveis. Para ser considerada uma perturbação e não uma reação normal, estes sintomas devem persistir durante pelo menos duas semanas e ser, geralmente, acompanhados por alterações no apetite e nos padrões de sono, fadiga, dificuldades de concentração, indecisão, pensamentos suicidas ou sentimentos de inutilidade, impotência e desespero. A tristeza é uma emoção que faz parte da vida psíquica normal. É uma reação normal a momentos mais difíceis, mas geralmente passa em pouco tempo. Uma depressão é algo que tem um grave impacto na vida. Pode causar sofrimento tanto para o doente, como para as pessoas que o rodeiam. Trata-se de uma perturbação, que pode ser grave, e não de um sinal de fraqueza ou falha de carácter. A depressão afeta ao longo da vida cerca de 20% da população portuguesa e é considerada a principal causa de incapacidade e a segunda causa de perda de anos de vida saudáveis. Uma em cada quatro pessoas em todo o mundo sofre, sofreu ou vai sofrer de depressão. Diferentes fatores têm influência no risco de depressão, como alterações em neurotransmissores (substâncias químicas responsáveis pela comunicação entre os neurónios), fatores genéticos, traços de personalidade e fatores ambientais. Enquanto alguns genes aumentam a resiliência a capacidade de recuperar de situações adversas e protegem contra a depressão, outros genes aumentam esse risco. Experiências como traumas ou abusos durante a infância e stress durante a idade adulta podem aumentar o risco. No entanto, as mesmas situações de stress e perda podem desencadear a depressão numa pessoa e não na outra. Os fatores ambientais desempenham também um papel importante, visto que um bom ambiente familiar e relações sociais saudáveis podem aumentar a resiliência. Cerca de metade das pessoas com um episódio de depressão recuperam e não voltam a ter nenhum episódio. No entanto, depois de três episódios, o risco de reincidência aproxima-se dos 100% se não existir tratamento de prevenção. A depressão, mesmo nos casos mais graves, pode ser tratada e quanto mais cedo o tratamento é iniciado, mais eficiente é. A maioria dos doentes apresenta melhorias dos seus sintomas quando tratados com antidepressivos, psicoterapia ou uma combinação dos dois. 

ESQUIZOFRENIA

A esquizofrenia atinge cerca de 1% da população e tende a manifestar-se no final da adolescência. Embora não faça distinção entre sexos, raças ou culturas, as populações mais afetadas são as rurais e os grupos sociais com baixo nível socioeconómico e cultural. O aparecimento da doença é mais precoce em indivíduos do sexo masculino (entre os 15 e os 25 anos) e mais tardio em pessoas do sexo feminino (entre os 25 e os 30 anos). É uma doença que raramente ocorre depois dos 45 anos. Os sintomas são muito diversos e complexos e, de modo geral, traduzem uma perda de contacto com a realidade. Alucinações: As alucinações auditivas, visuais ou olfativas são comuns. O doente esquizofrénico frequentemente está convicto que os outros conseguem ler os seus pensamentos, controlá-los ou que desejam fazer-lhe mal. Essa convicção aterroriza o paciente que tende a afastar-se ou a ficar muito agitado. Discurso confuso: O discurso do doente com esquizofrenia muitas vezes não faz sentido e pode ser interrompido subitamente a meio de uma frase. Os pensamentos tendem a ser muito desorganizados. Alterações dos movimentos: ocorrem também alterações dos movimentos, podendo o paciente ficar sentado durante horas sem se mover ou falar, ou repetir certos movimentos vezes sem conta. Noutras ocasiões, o doente parece estar perfeitamente bem. Alguns sintomas de esquizofrenia são mais vagos e difíceis de detetar como, por exemplo: a ausência de expressão na voz ou no rosto enquanto o paciente fala; a ausência de prazer nas atividades diárias; a incapacidade de iniciar e manter as tarefas planeadas; a dificuldade de compreender informação, de tomar decisões ou de se manter concentrado; a incapacidade de usar uma informação imediatamente após a ter aprendido; O tratamento da esquizofrenia incide na eliminação dos sintomas e passa pela utilização de medicamentos e pela psicoterapia.

JOGO PATOLÓGICO

Jogo patológico ou ludomania, mais popularmente conhecido como “vício do jogo”, refere-se ao comportamento de persistir em jogar recorrentemente apesar de consequências negativas ou do desejo de parar. É mais prejudicial e conhecido entre jogos que envolvem dinheiro, mas qualquer jogo prazeroso pode tornar-se viciante.

PERTURBAÇÃO OBSESSIVA-COMPULSIVA

A perturbação obsessivo-compulsiva (POC) é uma perturbação grave que, como o próprio nome indica, se caracteriza por dois fenómenos: as obsessões e as compulsões. As obsessões são definidas como pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes e que provocam ansiedade ou mal-estar. O indivíduo tenta ignorar ou suprimir estes pensamentos com algum outro pensamento, ou através da realização de uma compulsão, ou ritual. O medo da contaminação, de prejudicar os outros acidental ou intencionalmente, de cometer um erro grave (como deixar um fogão ligado, uma porta aberta ou atirar algo importante para o lixo) e de contrair uma doença são alguns exemplos das obsessões mais comuns. As compulsões são comportamentos repetitivos geralmente executadas em resposta a obsessões. As compulsões mais frequentes são limpar (para reduzir o medo de contaminação por germes, sujidade ou produtos químicos), repetir (nomes, frases ou comportamentos para dissipar a ansiedade), verificar (para reduzir o medo de fazer mal a alguém por se esquecer, por exemplo, de desligar o gás do fogão), ordenar e organizar (para reduzir o desconforto, algumas pessoas alinham livros por uma determinada ordem, por exemplo). São também frequentes as compulsões mentais, como rezar silenciosamente ou repetir frases, uma vez mais para reduzir a ansiedade. Só pode ser considerado POC quando as obsessões ou compulsões interferem significativamente com as rotinas normais do indivíduo e quando as mesmas ocupam uma considerável parte do dia (pelo menos uma hora por dia). O tratamento mais comum para a POC é a combinação de medicação com Terapia Cognitivo-Comportamental, um tipo de psicoterapia que se tem revelado muito eficaz no tratamento desta patologia.

PSICOSES

A psicose não é, em si, uma doença. Existem várias doenças que atingem o cérebro e prejudicam as suas funções (como doença bipolar, esquizofrenia, depressão major, demência, uso de drogas, etc.), podendo provocar psicose, mas também outros sintomas, como alterações das emoções ou desorganização do pensamento. A psicose depende não só de haver vulnerabilidade do cérebro (por exemplo, por causas genéticas ou problemas na formação do cérebro), mas também pelas situações desafiantes que o cérebro vai a enfrentar ao longo da vida (por exemplo, infeções e outras doenças, medicação ou drogas e mudanças na vida). O tratamento da psicose e a duração desse tratamento dependem da doença que está presente. Contudo, em qualquer caso de psicose, uma parte do tratamento será com medicamentos chamados antipsicóticos,

que são

muito eficazes.

PERTURBAÇÃO DA PERSONALIDADE

A personalidade traduz-se na forma de pensar, sentir e agir e é o que distingue uma pessoa de todas as outras. São vários os fatores que podem influenciar a personalidade de um indivíduo, nomeadamente as experiências, o meio ambiente e características hereditárias. Quando os traços de personalidade são inflexíveis, prejudicam as relações sociais, causam sofrimento e desviam-se das expectativas da cultura onde o indivíduo está inserido, podemos falar em perturbações da personalidade. Existem diversas perturbações da personalidade, que podem ser reunidas em três grupos distintos, com base em semelhanças descritivas. No entanto, frequentemente, as pessoas apresentam perturbações da personalidade de grupos distintos em simultâneo. O primeiro grupo inclui as perturbações da personalidade paranoide, esquizoide e esquizotípica. As pessoas com estas perturbações são frequentemente descritas pelos outros como sendo esquisitas ou excêntricas. Num outro grupo, inserem-se as perturbações da personalidade antissocial, borderline, histriónica e narcisista, no qual os indivíduos tendem a parecer dramáticos, emotivos ou erráticos. O terceiro grupo inclui as perturbações da personalidade evitativa, dependente e obsessivo-compulsiva. Estes indivíduos têm tendência a parecer ansiosos ou medrosos. É durante a adolescência ou no início da vida adulta que as características de um transtorno da personalidade tornam-se mais evidentes. Alguns tipos de transtorno da personalidade, nomeadamente as perturbações da personalidade antissocial e borderline, tendem a ficar menos evidentes ou a desaparecer com a idade. O mesmo parece não acontecer com outros tipos, como as perturbações da personalidade obsessivo-compulsiva e esquizotípica. 

PERTURBAÇÃO BORDERLINE

A Perturbação de Personalidade Borderline (PPB) é das perturbações de personalidade mais comuns na prática clínica, surgindo em cerca de 2% da população em geral e em 20% dos doentes psiquiátricos [1]. Na clínica, cerca de 75% das pessoas com PPB são mulheres. Conforme o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-5), a PPB é categorizada como Perturbação de Personalidade do Cluster B. É definida como “um padrão difuso de instabilidade das relações interpessoais, da autoimagem e dos afetos e de impulsividade acentuada que surge no início da vida adulta e que está presente numa variedade de contextos”. Os critérios de diagnóstico de PPB incluem cinco ou mais dos seguintes: (1) esforços desesperados para evitar abandono real ou imaginado; (2) um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos caracterizado pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização; (3) perturbação da identidade: instabilidade acentuada e persistente da autoimagem ou da perceção de si mesmo; (4) impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente autodestrutivas (p.ex: gastos excessivos, atividade sexual, abuso de substâncias, condução irresponsável, compulsão alimentar); (5) recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento automutilante; (6) instabilidade afetiva devida a uma acentuada reatividade de humor (p.ex.: disforia episódica, irritabilidade ou ansiedade intensa com duração geralmente de poucas horas e apenas raramente de mais de alguns dias); (7) sentimentos crónicos de vazio; (8) raiva intensa e inapropriada ou dificuldade em controlá-la; (9) ideação paranoide transitória associada a stress ou sintomas dissociativos intensos. 

PERTURBAÇÕES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR

As perturbações do comportamento alimentar são doenças que provocam distúrbios sérios na forma como as pessoas se alimentam e nos pensamentos e emoções relacionados com a alimentação. Tipicamente, os indivíduos com perturbações do comportamento alimentar tornam-se obcecados com o seu peso. Geralmente, as pessoas que sofrem destas perturbações são extremamente críticas em relação ao seu corpo, revelando um medo intenso de ganhar peso. Mesmo que tenham um peso normal, ou até abaixo do peso ideal, tendem a sentir-se gordas. Frequentemente, as pessoas com estes distúrbios não reconhecem que têm um problema de saúde. Em muitos casos, as perturbações do comportamento alimentar surgem associadas a outros distúrbios como ansiedade, pânico, perturbação obsessivo-compulsiva e problemas de abuso de álcool e drogas. Novas evidências sugerem que a hereditariedade pode ter influência no aparecimento dos distúrbios alimentares, mas estas doenças afetam também pessoas sem casos na família. Se não houver tratamento dos sintomas físicos e psicológicos, os distúrbios alimentares podem desencadear condições potencialmente fatais, como desnutrição e risco de morte súbita de origem cardíaca. No entanto, com os devidos cuidados médicos, as pessoas que sofrem de anorexia ou bulimia nervosa podem retomar os hábitos alimentares adequados e regressar a uma vida saudável.

PERTURBAÇÃO DE HIPERATIVIDADE E DÉFICE DE ATENÇÃO

A perturbação de hiperatividade e défice de atenção (PHDA) é uma das perturbações mentais mais comuns nas crianças, mas afeta também muitos adultos. Os sintomas deste distúrbio incluem desatenção, hiperatividade e impulsividade. Uma pessoa com PHDA tem geralmente dificuldade em prestar atenção aos detalhes, cometendo erros por descuidos na escola, no trabalho ou durante outras atividades; parece não estar a ouvir quando outra pessoa está a falar; não consegue seguir instruções até ao fim e concluir tarefas; evita tarefas que exijam esforço mental, como os trabalhos escolares ou a elaboração de relatórios no caso dos adultos; perde frequentemente objetos necessários às suas atividades; distrai-se com muita facilidade; não consegue ficar parado numa cadeira; tem dificuldades em esperar pela sua vez e interrompe os outros com frequência. Os sintomas podem aparecer cedo, entre os três e os seis anos, mas não raras vezes são confundidos com problemas emocionais ou de disciplina, levando a um diagnóstico tardio. Ao longo da vida, os sintomas de PHDA tendem a evoluir. Em crianças, a hiperatividade e impulsividade é mais predominante, mais tarde é a desatenção que se assume como principal sintoma. A medicação é a principal forma de tratamento da perturbação de hiperatividade e défice de atenção, mas há estudos que indicam que quando combinada com orientações aos pais e professores, psicoterapia e neuroterapia por Neurofeedback, o tratamento revela-se mais eficaz.

STRESS PÓS-TRAUMÁTICO

As características essenciais da Perturbação Pós-Stress Traumático consistem no desenvolvimento de sintomas típicos no indivíduo após a exposição a um stressor traumático extremo, envolvendo uma experiência pessoal direta a um acontecimento real, que envolve morte, ameaça de morte ou ferimento sério, ou outra ameaça à integridade física; ter testemunhado ou presenciado um evento que envolve morte, ferimentos ou ameaça à integridade física de outra pessoa; ou ter conhecimento sobre morte violenta, ou inesperada, ferimento sério ou ameaça de morte, ou ferimento experimentados por um membro da família, ou outra pessoa do círculo íntimo do indivíduo. A resposta emocional do indivíduo ao evento deve envolver medo intenso, sentimento de impotência ou horror (em crianças, a resposta pode envolver comportamento desorganizado ou agitação). Os sintomas característicos resultantes da exposição a um trauma extremo incluem uma reexperienciação persistente do evento traumático, evitamento de estímulos associados com o trauma, embotamento ou arrefecimento emocional geral e sintomas persistentes de ativação psicofisiológica. Para fazer o diagnóstico, quadro sintomático completo deve estar presente durante mais de um mês e a perturbação deve causar sofrimento ou prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, ocupacional ou outras áreas importantes da vida do indivíduo.